Por Silvana Arantes (em Berlim)
Terminou agora há pouco a sessão oficial competitiva de "Tropa de Elite" no Festival de Berlim. A platéia reagiu com aplausos moderados. Mas isso não necessariamente significa desapreço ao filme. Quando perguntei ao espectador alemão sentado ao meu lado se ele não havia gostado do filme, já que aplaudia com pouco entusiasmo, a resposta foi: "Gostei, sim. É um filme muito pesado, mas acho que não poderia ser de outro jeito. Se você quer mudar essa realidade, tem de mostrá-la com todas as letras".
O tom sóbrio foi também o que Padilha adotou quando subiu ao palco, antes de chamar sua equipe. "Muito obrigado. Estamos todos muito honrados de estar aqui no Festival de Berlim. Estamos honrados, mas obviamente não podemos estar felizes, por causa desta situação no Brasil." Em seguida, ele chamou ao palco os integrantes da equipe que vieram a Berlim _os atores Wagner Moura (intensamente aplaudido) e Maria Ribeiro (única mulher no grupo, recebeu do festival um delicado arranjo de flores), o fotógrafo Lula Carvalho, o assistente de direção Rafael Salgado, o produtor Marcos Prado, o distribuidor internacional Harvey Weinstein e o co-produtor argentino Eduardo Costantini, entre outros.
"Não tenho muita experiência em sessões de festival, mas achei que foi boa", comentou Wagner na saída, antes de ser abordado por uma família de fãs brasileiras _duas filhas adolescentes com a mãe, que frisou: "A mãe também quer foto [ao lado do ator]".
Durante a sessão, o público teve um único momento de descontração. A risada foi grande na cena em que, durante o curso de treinamento dos novos oficiais do Bope, o Capitão Nascimento pronuncia a palavra "estratégia" em diversas línguas _com pequeníssimas variações. Quando ele fala em alemão, o público gargalhou.
A primeira sessão de "Tropa de Elite" em Berlim, de manhã, para a imprensa, foi marcada por um atropelo. Diferentemente do que acontece com todos os outros longas, a cópia com legendas em inglês não estava disponível _por razões ainda não esclarecidas. Foi exibida uma versão legendada em alemão, que é preparada para a projeção na sessão oficial. A alternativa dos jornalistas que não falam nem alemão nem português era usar tradução simultânea em fones de ouvido, que o festival disponibiliza. Mas, com seus diálogos sobrepostos e velozes, "Tropa de Elite" não é a obra mais indicada para esse tipo de expediente. Jornalistas que usaram o fone comentavam que ficaram sem a tradução de parte do conteúdo do filme.
Na entrevista coletiva após a projeção da manhã, Padilha estava afiado. Criticou a polícia, os traficantes, a crítica cinematográfica. Disse que fez esse filme para mostrar que é insustentável a situação de um país em que a polícia acredita que violência se combate com mais violência. Ele respondeu perguntas sobre a pirataria, a reação do público brasileiro ao filme e disse (em três ocasiões) que é a favor da legalização das drogas.
Ao abordar o debate provocado por "Tropa de Elite" no Brasil, que classificou como o maior da história do país em torno de um filme, ele disse que temos o hábito de interpretar de modo distinto a cinematografia americana e nossa própria. "Quando Scorsese, que é um dos meus ídolos como diretor e esteve neste festival [com "Shine a Light", o filme de abertura, hors-concours] faz um filme como 'Os Bons Companheiros', ninguém diz que ele é pró-máfia. Eu fui acusado de ser radical de direita porque fiz 'Tropa de Elite', um filme com o ponto de vista de um policial, e fui acusado de ser radical de esquerda quando fiz 'Ônibus 174', com a perspectiva do seqüestrador [do coletivo no Rio, Sandro Nascimento]".
Fonte folhaonline
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